terça-feira, 9 de outubro de 2012


O Guairá depois dos ataques dos bandeirantes


            Disse a historiadora Cecília Westphalen: “Após os ataques bandeirantes e a destruição das reduções, bem como do abandono das povoações espanholas, ficou o ocidente do Paraná em esquecimento por mais de um século. Sem índios, sem ouro e prata, não mais atrairia atenção” 235.

            Sem índios que servissem de escravos, bem entendido.  Porque, com o êxodo dos guarani, índios menos “dóceis” que eles, de caráter feroz, turbulentos (conforme a opinião do padre Techo antes referida sobre os gualacho ou guaianá), acabaram ocupando a região. A propósito, afirma Tempski:

Extinto o “Reino Teocrático Jesuítico-Indígena”, espavoridos ou trucidados os grandes contingentes de  índios guaranis que o habitavam, seus territórios foram, a seguir e em massa, povoados pelos jês, de  além do Paraná, que transpondo o rio Paranapanema, se difundiram nas margens dos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri,  Iguaçu,  se  acomodaram  durante  longas  décadas  nas  planícies  de  Guarapuava  e de Palmas, foram assíduos  nas vizinhanças e nas terras da antiga vila, depois da cidade de Curitiba  e, se deslocando para regiões mais meridionais, ultrapassaram o rio Uruguai, ocuparam as matas e os campos do noroeste riograndense (...)” 236

         Mais adiante, Tempski identifica os jê mencionados com os guaianá, os quais “vinham sendo deslocados do oriente para o ocidente, pelos colonizadores portugueses de São Vicente e de Piratininga.” (p.27). Afirma também que os guaianás, coroados, bugres, botocudos etc receberam posteriormente a denominação genérica de caingangues (p.38), conforme proposta feita por Telêmaco Borba em 1882 e adotada depois pelos etnólogos (p.25).

            J.Loureiro Fernandes, citado por Tempski, constata a presença de caingangues entre os rios Iguaçu e Uruguai e afirma que “sua imigração para o norte desses rios só se deu após o êxodo dos guaranis” (p.37)

           Lembremo-nos que eles já estavam presentes, embora de forma minoritária, no tempo das reduções, pois vimos que algumas destas, fundadas na década de 1620, envolviam os coroados e guainás, incluídos, conforme citação acima, dentre os caingangues, índios estes “imprestáveis para escravos” na expressão de Darcy Ribeiro (cf. “O povo brasileiro”, op. cit., p.31).        

            Na segunda metade do século XVII, apesar do desaparecimento da ocupação espanhola da região mais ocidental do Estado do Paraná, não se verificou a sua ocupação efetiva por parte dos portugueses, que permaneceram concentrados na parte oriental.

            Foi pelo litoral que se iniciou a ocupação do território paranaense, como uma projeção do litoral paulista, onde já em 1532 se fundara a primeira vila no Brasil, a de São Vicente. Mas a ocupação do nosso litoral ocorreu muito lentamente. Somente quando se descobriu ouro em Paranaguá, em 1646 (o primeiro ouro descoberto no Brasil), é que passou a existir um forte atrativo para a vinda de migrantes. Em 1648 Paranaguá tornou-se vila. E nesse mesmo ano, Ébano Pereira remeteu amostras de ouro do planalto curitibano para o Governador Geral do Rio de Janeiro. Assim, a procura desse metal precioso fez com que se avançasse “serra acima”, e se iniciasse a ocupação do primeiro planalto, o de Curitiba. Em 1661 é concedida aí a primeira sesmaria, em favor de  Baltazar Carrasco dos Reis, um dos mais antigos povoadores da região. Alguns anos depois, em 1668, verificou-se a ereção do pelourinho mas só em 1693 foram eleitas as autoridades, completando-se desse modo a  fundação da vila de Curitiba 237. Porém tudo isso ocorreu, já se vê, quando não mais existiam as vilas espanholas e as reduções jesuíticas.



Rafael Silva- fundação da vila de Paranaguá



235 “Dicionário Histórico-Biográfico do Estado do Paraná”, op cit, p. 138-139
236 Tempski, Edwino Donato-- “Caingangues- gente do mato”. Curitiba: Imprensa Oficial, 1986 (volume XLIV do Boletim do Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense),  p. 24-25
237 "Dicionário Histórico-Biográfico...”, op cit, passim; Wachowicz, Ruy Christovam-- “História...”, op cit, passim; Martins, Romário-- “História...”, op cit, passim.  

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