O Guairá depois dos ataques dos bandeirantes
Disse a historiadora
Cecília Westphalen: “Após os ataques bandeirantes e a destruição das
reduções, bem como do abandono das povoações espanholas, ficou o ocidente do
Paraná em esquecimento por mais de um século. Sem índios, sem ouro e prata, não
mais atrairia atenção” 235.
Sem índios que
servissem de escravos, bem entendido.
Porque, com o êxodo dos guarani, índios menos “dóceis” que eles, de
caráter feroz, turbulentos (conforme a opinião do padre Techo antes referida
sobre os gualacho ou guaianá), acabaram ocupando a região. A propósito, afirma
Tempski:
Extinto
o “Reino Teocrático Jesuítico-Indígena”, espavoridos ou trucidados os grandes
contingentes de índios guaranis que o habitavam, seus territórios foram, a seguir e
em massa, povoados pelos jês, de além do Paraná, que transpondo o rio
Paranapanema, se difundiram nas margens dos rios Tibagi, Ivaí, Piquiri,
Iguaçu, se acomodaram
durante longas décadas
nas planícies de
Guarapuava e de Palmas,
foram assíduos nas vizinhanças e nas
terras da antiga vila, depois da cidade de Curitiba e, se deslocando
para regiões mais meridionais, ultrapassaram o rio Uruguai, ocuparam as matas e
os campos do noroeste
riograndense (...)” 236
Mais adiante, Tempski
identifica os jê mencionados com os guaianá, os quais “vinham sendo
deslocados do oriente para o ocidente, pelos colonizadores portugueses de São
Vicente e de Piratininga.” (p.27). Afirma também que os guaianás, coroados,
bugres, botocudos etc receberam posteriormente a denominação genérica de
caingangues (p.38), conforme proposta feita por Telêmaco Borba em 1882 e
adotada depois pelos etnólogos (p.25).
J.Loureiro Fernandes,
citado por Tempski, constata a presença de caingangues entre os rios Iguaçu e
Uruguai e afirma que “sua imigração para o norte desses rios só se deu após
o êxodo dos guaranis” (p.37)
Na segunda metade do
século XVII, apesar do desaparecimento da ocupação espanhola da região mais
ocidental do Estado do Paraná, não se verificou a sua ocupação efetiva por
parte dos portugueses, que permaneceram concentrados na parte oriental.
Foi
pelo litoral que se iniciou a ocupação do território paranaense, como uma
projeção do litoral paulista, onde já em 1532 se fundara a primeira vila no
Brasil, a de São Vicente. Mas a ocupação do nosso litoral ocorreu muito
lentamente. Somente quando se descobriu ouro em Paranaguá, em 1646 (o primeiro
ouro descoberto no Brasil), é que passou a existir um forte atrativo para a
vinda de migrantes. Em 1648 Paranaguá tornou-se vila. E nesse mesmo ano, Ébano
Pereira remeteu amostras de ouro do planalto curitibano para o Governador Geral
do Rio de Janeiro. Assim, a procura desse metal precioso fez com que se
avançasse “serra acima”, e se iniciasse a ocupação do primeiro planalto, o de
Curitiba. Em 1661 é concedida aí a primeira sesmaria, em favor de Baltazar Carrasco dos Reis, um dos mais antigos
povoadores da região. Alguns anos depois, em 1668, verificou-se a ereção do
pelourinho mas só em 1693 foram eleitas as autoridades, completando-se desse
modo a fundação da vila de Curitiba 237. Porém tudo isso ocorreu, já se vê,
quando não mais existiam as vilas espanholas e as reduções jesuíticas.
Rafael Silva- fundação da vila de Paranaguá |
235 “Dicionário
Histórico-Biográfico do Estado do Paraná”, op cit, p. 138-139
236 Tempski, Edwino Donato-- “Caingangues- gente do
mato”. Curitiba: Imprensa Oficial, 1986 (volume XLIV do Boletim do Instituto
Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense), p. 24-25
237 "Dicionário Histórico-Biográfico...”,
op cit, passim; Wachowicz, Ruy Christovam-- “História...”, op cit, passim;
Martins, Romário-- “História...”, op cit, passim.
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