terça-feira, 9 de outubro de 2012


Fundação de Ciudad Real





Dois anos mais tarde, o capitão Ruy Díaz Melgarejo, diz Guzmán, é encarregado pelo governador Irala de fundar uma outra vila na província do Guairá, “por ser escalón y pasage del camino del Brasil” (o espanhol Melgarejo, como Vergara, também viera para o Novo Mundo na expedição de Cabeza de Vaca 71). Segundo ainda Guzmán, citado por Cortesão 72, a intenção de Irala ao assim decidir era poder avisar ao Rei de Espanha, pela costa brasileira, da situação da região e prevenir “los grandes daños y asaltos que los portugueses hacian por aquella parte a los indios carios de esta provincia”. Estabelecendo povoação nesse lugar estratégico, de acordo com Cortesão, Irala defendia “a  posse dos índios, motivo certo, e as riquezas metálicas, incentivo possível das entradas dos portugueses” 73.
A intenção de Irala era também atender aos espanhóis insatisfeitos com a distribuição de “encomiendas”. Como diz Guzmán: “Habiendo considerado el Gobernador la mucha gente española que había en la tierra, y la poca comodidad qué tenían, por no haberles cabido parte de las encomiendas de indios que habia repartido en aquella ciudad (...) fue acordado     se hiciesen algunas poblaciones donde se pudiesen acomodar los que quisiesen y estaban desacomodados” 74.
Parte então Melgarejo com 100 soldados para estabelecer Ciudad Real em princípios de 1557 no local onde o rio Piquiri desemboca no Paraná (“sobre el mismo Paraná en la boca del Río Piquirí”), três léguas acima da vila de Ontiveros, na opinião de Guzmán, que assim se expressa a respeito:

(...) partió el capitán Melgarejo com 100 soldados para su jornada. Y llegado al puerto del Paraná, pasó a la otra parte de aquel río, a los pueblos que llaman de Guayra; y consideradas las  partes  y disposición de aquella tierra, hizo su fundación tres leguas más arriba de la villa de   Ontiveros, y la llamó Ciudad Real, donde agregó y redujo la gente que en ella había, por estar mal situada , y tan cerca y vecina de aquel peligroso salto (grifo meu) 75.
 40 mil famílias indígenas recenseadas na região são encomendadas a 60 “vizinhos”, i.e espanhóis residentes na cidade. Nas palavras de Guzmán: “Fueron empadronados (= recenseados; alistados) en esta provincia, en todos los ríos comarcanos a esta ciudad, 40 mil fuegos, entendiéndose cada fuego por un indio con su mujer e hijos; aunque siempre corresponden a mucho más, los cuales fueron encomendados en 60 vecinos”76
            Nesse caso os historiadores consultados são unânimes em repetir Guzmán, exceto  Vasconsellos quanto ao nome do fundador. Ele afirma ter sido Nuflo de Chaves (e não Melgarejo) quem trasladou a população de Ontiveros para Ciudad Real 77.
            Segundo Chmyz, “Ciudad Real, cujos restos estão localizados no atual município paranaense de Terra Roxa do Oeste, foi disposta justamente na passagem do Peabiru para o Mato Grosso e Paraguai” 78 (Terra Roxa desmembrou-se do município de Guaíra em 1961 79). Sua localização, portanto, era estratégica e visava assegurar o controle espanhol sobre o caminho de Peabiru que levava à “mina de prata mais rica do mundo”, a de Potosi, descoberta em 1545. Assim esse seria outro dos  fatores básicos que influenciaram a decisão de Irala de estabelecer povoações no Guairá, além daqueles mencionados acima (a comunicação com o litoral brasileiro, a posse efetiva do  território e a presença de milhares de índios no Guairá, passíveis de serem vinculados ao sistema das “encomiendas” 80 o que, ao se efetivar,  aliviaria as pressões oposicionistas ao seu governo). 
            De acordo ainda com Chmyz, embora se desenvolvesse em Ciudad Real uma agricultura diversificada (milho, mandioca, legumes, cana-de-açúcar, banana, frutas cítricas, uva e tabaco), e também a criação de aves, ovelhas, porcos e cavalos (com base naturalmente no trabalho indígena), a sua principal atividade econômica era a extração da erva mate, que “chegou a ser exportada mais tarde para as reduções do Rio Grande do Sul” 81.


71 “Aportes de Benjamín Velilla...”, op cit, p. 115
72 Cortesão, Jaime- “Jesuítas...”, op cit, p. 71-72
73 Id., ibid., p. 72
74 Cf:  http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/68049485989571385754491/index.htm
75 Cf:  http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/68049485989571385754491/index.htm
76 Cf:  http://www.cervantesvirtual.com/servlet/SirveObras/68049485989571385754491/index.htm
77 Vasconsellos, Victor Natalicio-- “Lecciones...”, op cit, p. 63
78 Chmyz, Igor-- “Arqueologia e História...”, op cit, p. 71 (v. adiante  mapas nºs 5 e 6)
79 Ferreira, João Carlos Vicente-- “Municípios paranaenses: origens e significados de seus nomes ”. Cadernos Paraná da Gente nº 5- Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2006- p.320
80 Balhana, Altiva Pilatti et al.-- “História...”, op cit, p.43 e 48
81 Chmyz, Igor-- “Arqueologia e História...”, op cit, p. 71 

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