terça-feira, 9 de outubro de 2012


A proeza de Aleixo Garcia



Caminho do Peabiru
 (extraído de http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/?p=729)
         

                   Após Solis ser morto pelos índios charrua ou guarani 32, na região do Prata, os três navios de sua expedição iniciam a viagem de regresso à Espanha, mas um deles naufraga na costa brasileira, próximo à ilha de Santa Catarina. Parte da  tripulação  se  salva, inclusive Aleixo Garcia, português, “natural de Alentejo”, que viverá durante vários anos  nessa   ilha,   chamada   então   de Yurú-minrín, com os carijó  (índios “cario”, para os espanhóis), onde aprende  o  guarani,  “la  lengua  geral  hablada  en uma vasta zona del continente”, conforme  Chaves 33 . Os índios lhe informam sobre a existência de ouro e prata no interior do continente. Em 1524, ele, acompanhado de três companheiros (Alejo Ledesma, o “mulato” Pacheco e outro “cristão”) e um exército de índios guarani 34, parte daquela ilha, certamente atravessando o território paranaense e seguindo pelos caminhos pré-colombianos de Peabiru que os índios lhe ensinam. Transposto o rio Paraná, descobre a região do Paraguai atual e chega às encostas dos Andes.  Garcia consegue chegar até os domínios do império inca, sendo o primeiro a fazer isso, seis anos antes de Pizarro. Em sua jornada avançara cerca de 600 léguas para dentro do continente (das quais 300 corresponderam ao trajeto de Santa Catarina a Assunção). Depois de acumular muitos objetos de metal precioso (vasos, baixela etc), decide regressar para buscar reforços. Envia emissários com amostras de metal à ilha de Yurú-minrín. Cruzando o rio Paraguai, aguarda, a 50 léguas ao norte de Assunção,  o auxílio de seus amigos da ilha, que não chega. E é morto ali ou pelos paiaguá, que lhe roubam as peças valiosas que trazia, ou pelos próprios guarani que o acompanharam naquela jornada. Esta última é a opinião de Ruy Díaz de Guzmán. Afirma ainda Julio Cesar Chaves, fonte das informações anteriores: “Y así acabó en 1525-- comenta Domínguez –el descubridor del Paraguay y de Charcas, el primero que se internó en la tierra de los mbayaes y penetró en los dominios del Inca, terminando su carrera cuando Pizarro no empezaba todavía la suya en el Perú 35

            Em 1526 Sebastián Caboto é encarregado pela coroa espanhola de reproduzir a viagem de Magalhães, e chegar às Índias pelo ocidente. Mas tendo notícias da jornada de Aleixo Garcia, muda de rota e resolve adentrar o continente pelo Rio da Prata em busca dos famosos metais preciosos sobre os quais se comentava. Na margem direita do rio Paraná funda, em 1527, o primeiro estabelecimento europeu na região, o forte “Sancti Spiritu” (nas proximidades da atual cidade de Santa Fé, na Argentina). Não consegue chegar até onde chegou Garcia. Retornando à Espanha em 1530 é desterrado, por não ter cumprido a determinação real 36.



32 Gadelha, Regina Maria A.F.-- “As Missões Jesuíticas do Itatim: um estudo das estruturas sócio-econômicas coloniais do Paraguai (séculos XVI e XVII)”. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 85, nota 66).  Bernand e Gruzinski afirmam que Solis “foi morto por índios guarani nas margens do Uruguai e provavelmente devorado” (Bernand, Carmen e Gruzinski, Serge-- “História do Novo Mundo”- 2a. ed- S. Paulo: Editora da Universidade de S.Paulo, 2001-p.627). 
33 Chaves, Julio César-- “Descubrimiento y Conquista del Rio de la Plata y el Paraguay” (v. 1 de la Historia General del Paraguay). Asunción: Ediciones Nizza, 1968- p.38
34 Vasconsellos, Victor Natalicio-- “Lecciones...”, op cit, p. 31 e 34-35; Cabeza de Vaca-- “Naufrágios e Comentários”. Porto Alegre: L&PM, 1999- p.315 e 318 (notas); Chaves, Julio Cesar-- “Descubrimiento...”, op cit, p. 39 e 42. Sobre o sistema de caminhos do Peabiru, ver Chmyz, Igor- “Arqueologia e história da vila espanhola de Ciudad Real do Guairá in “Cadernos de Arqueologia- ano 1, nº 1, 1976- p. 7-103 ( cf. p.69-70)
35 Chaves, Julio César-- “Descubrimiento...”, op cit, p. 45
36 Vasconsellos, Victor Natalicio-- “Lecciones...”, op cit, p. 33-34; Benitez, Luis G.-- “Manual de Historia Paraguaya”. Asunción: Imprenta Comuneros S.R.L., s/d.-- p.20-22;  Bernand, Carmen e Gruzinski, Serge-- “História...”, op cit, p.599 e 640

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