terça-feira, 9 de outubro de 2012


3. O PARANÁ ESPANHOL

Como os espanhóis iniciaram a ocupação da região

            Apresento a seguir uma síntese da evolução histórica da conquista e  princípios da colonização pelos espanhóis do continente sul-americano, em sua parte meridional e oriental, até a ocupação do Guairá, no primeiro século após a descoberta da América. 

            Por que me concentrar nessa região e não em outras, uma  vez que os espanhóis estavam, nessa época, explorando a América em  várias frentes, nas Antilhas, no México, na Flórida, na costa sul-americana do Pacífico? A razão decorre, naturalmente, do interesse principal desta monografia, que é, como já foi dito, a compreensão da realidade da chamada província do Guairá, ou do “Paraná espanhol.”

            Enquanto os fatos a seguir descritos, de iniciativa espanhola, ocorriam, os portugueses ocupavam progressivamente o litoral brasileiro, iniciando pela fundação da primeira vila, S. Vicente, em 1532, e estendendo-se daí para o norte e para o sul, mas sem ocupar, no século XVI, o extremo-sul, vale dizer o litoral abaixo de Cananéia. A vila de Paranaguá só será fundada em 1648 e a do Desterro, em 1675.  Apenas em 1680 os portugueses vão fundar a Colônia do Sacramento, na margem norte do Prata, logo arrasada pelos espanhóis. Depois eles a reconquistarão, iniciando um  conflito permanente entre as duas potências ibéricas que só acabará com os tratados de Madri e Santo Ildefonso já  referidos. É bom lembrar também, para nos situarmos historicamente, que em 1534 o rei de Portugal dividira em capitanias hereditárias todo o território a leste do meridiano de Tordesilhas, que lhe coubera pelo respectivo Tratado. A parte do território hoje pertencente ao Estado do Paraná integrava as capitanias mais meridionais, a de S. Vicente e a de Santo Amaro, doadas respectivamente a Martim Afonso de Souza e Pero Lopes de Souza.

            A conquista espanhola do Novo Mundo inicia pelas ilhas do mar das Antilhas, pois foi numa delas-- a ilha de San Salvador, pertencente ao arquipélago das Bahamas 29 -- que Colombo aportou em 1492, fato que assinala o descobrimento da América. E prossegue, estendendo-se para as regiões do Golfo do México e para as áreas setentrionais da América do Sul.

            Depois que Vasco Nuñes Balboa, em 1513, encontrou passagem no istmo do Panamá e descobriu um outro oceano, o Pacífico-- chamado então “mar do Sul” em contraposição ao “mar do Norte”, o Atlântico-- os espanhóis seriam impelidos a explorar a costa sul americana do Pacífico,  investindo  contra  o  império  inca  ali  existente,   no   atual   território    do   Peru   (sua    capital,    Cusco,   fora    fundada em 1021, segundo uns, ou 1150, segundo outros, bem antes da descoberta da América, portanto) 30. Também o território do Chile seria conquistado, sendo concedidas tais áreas a Francisco Pizarro e Diego de Almagro, respectivamente.  Mas, dada a rivalidade que havia entre os dois povos ibéricos, a costa do Atlântico não seria deixada livremente para os portugueses. E assim Juan Díaz de Solis, a serviço da Espanha, explora o litoral sul  do continente e descobre em 1516 o Rio da Prata, que seria chamado de “Mar Dulce”.

            Nessa época o maior interesse dos espanhóis-- e também dos portugueses --era encontrar um caminho alternativo para as Índias, de onde provinham especiarias muito requisitadas pelo ocidente, objeto de um rico comércio (o caminho tradicional, por via terrestre, apresentava excesso de intermediários e alto custo 31). Enquanto os portugueses buscavam contornar a costa da África para chegar às Índias pelo oriente-- resultando disso as suas heróicas “grandes navegações”-- os espanhóis visavam o mesmo objetivo, mas pelo ocidente, que redundou no apoio da coroa ao projeto de Colombo e consequente descobrimento da América.

            Assim, a  motivação espanhola para a expedição de Solis, após a descoberta do Pacífico por Balboa, só podia ser avaliar a extensão do continente sul americano e descobrir uma passagem entre sua costa do Atlântico e a do Pacífico para se chegar às Índias navegando pelo ocidente. Tal passagem seria afinal descoberta, em 1520, por Fernão de Magalhães,  um português a serviço da Espanha. Ele descobriu o estreito que leva hoje o seu nome. A viagem de Magalhães, completada por Sebastián del Cano, representa a primeira circunavegação do globo.



29 Coe, Michael et al.- “Antigas Américas: Mosaico de Culturas”- Madrid: Edições del Prado, 1997- v. II, p. 160.
30 Mattoso, Antônio G.-- “Compêndio de História da América”- 2a ed- São Paulo: Ed. Melhoramentos, s/d.- p. 94
31 Caldeira, Jorge et al.-- “Viagem pela História do Brasil”. São Paulo: Companhia das Letras, 1997- p. 19-20

Nenhum comentário:

Postar um comentário