3. O PARANÁ ESPANHOL
Como os espanhóis
iniciaram a ocupação da região
Apresento a
seguir uma síntese da evolução histórica da conquista e princípios da colonização pelos espanhóis do
continente sul-americano, em sua parte meridional e oriental, até a ocupação do
Guairá, no primeiro século após a descoberta da América.
Por que me
concentrar nessa região e não em outras, uma
vez que os espanhóis estavam, nessa época, explorando a América em várias frentes, nas Antilhas, no México, na
Flórida, na costa sul-americana do Pacífico? A razão decorre, naturalmente, do
interesse principal desta monografia, que é, como já foi dito, a compreensão da
realidade da chamada província do Guairá, ou do “Paraná espanhol.”
Enquanto os
fatos a seguir descritos, de iniciativa espanhola, ocorriam, os portugueses
ocupavam progressivamente o litoral brasileiro, iniciando pela fundação da
primeira vila, S. Vicente, em 1532, e estendendo-se daí para o norte e para o
sul, mas sem ocupar, no século XVI, o extremo-sul, vale dizer o litoral abaixo
de Cananéia. A vila de Paranaguá só será fundada em 1648 e a do Desterro, em
1675. Apenas em 1680 os portugueses vão
fundar a Colônia do Sacramento, na margem norte do Prata, logo arrasada pelos
espanhóis. Depois eles a reconquistarão, iniciando um conflito permanente entre as duas potências
ibéricas que só acabará com os tratados de Madri e Santo Ildefonso já referidos. É bom lembrar também, para nos
situarmos historicamente, que em 1534 o rei de Portugal dividira em capitanias
hereditárias todo o território a leste do meridiano de Tordesilhas, que lhe
coubera pelo respectivo Tratado. A parte do território hoje pertencente ao
Estado do Paraná integrava as capitanias mais meridionais, a de S. Vicente e a
de Santo Amaro, doadas respectivamente a Martim Afonso de Souza e Pero Lopes de
Souza.
A conquista
espanhola do Novo Mundo inicia pelas ilhas do mar das Antilhas, pois foi numa
delas-- a ilha de San Salvador, pertencente ao arquipélago das Bahamas 29 -- que Colombo aportou em 1492, fato
que assinala o descobrimento da América. E prossegue, estendendo-se para as
regiões do Golfo do México e para as áreas setentrionais da América do Sul.
Depois que
Vasco Nuñes Balboa, em 1513, encontrou passagem no istmo do Panamá e
descobriu um outro oceano, o Pacífico-- chamado então “mar do Sul” em
contraposição ao “mar do Norte”, o Atlântico-- os espanhóis seriam impelidos a
explorar a costa sul americana do Pacífico,
investindo contra o
império inca ali
existente, no atual território do Peru (sua capital,
Cusco, fora fundada em 1021, segundo uns, ou 1150,
segundo outros, bem antes da descoberta da América, portanto) 30. Também o território do Chile seria
conquistado, sendo concedidas tais áreas a Francisco Pizarro e Diego de Almagro,
respectivamente. Mas, dada a rivalidade
que havia entre os dois povos ibéricos, a costa do Atlântico não seria deixada
livremente para os portugueses. E assim Juan Díaz de Solis, a
serviço da Espanha, explora o litoral sul
do continente e descobre em 1516 o Rio da Prata, que seria chamado de
“Mar Dulce”.
Nessa época
o maior interesse dos espanhóis-- e também dos portugueses --era encontrar um
caminho alternativo para as Índias, de onde provinham especiarias muito
requisitadas pelo ocidente, objeto de um rico comércio (o caminho tradicional,
por via terrestre, apresentava excesso de intermediários e alto custo 31). Enquanto os portugueses buscavam
contornar a costa da África para chegar às Índias pelo oriente-- resultando
disso as suas heróicas “grandes navegações”-- os espanhóis visavam o mesmo
objetivo, mas pelo ocidente, que redundou no apoio da coroa ao projeto de
Colombo e consequente descobrimento da América.
Assim,
a motivação espanhola para a expedição
de Solis, após a descoberta do Pacífico por Balboa, só podia ser avaliar a extensão
do continente sul americano e descobrir uma passagem entre sua costa do
Atlântico e a do Pacífico para se chegar às Índias navegando pelo ocidente. Tal
passagem seria afinal descoberta, em 1520, por Fernão de Magalhães, um português a serviço da Espanha. Ele
descobriu o estreito que leva hoje o seu nome. A viagem de Magalhães,
completada por Sebastián del Cano, representa a primeira circunavegação do
globo.
29
Coe, Michael et al.- “Antigas Américas: Mosaico de Culturas”- Madrid: Edições
del Prado, 1997- v. II, p. 160.
30
Mattoso, Antônio G.-- “Compêndio de História da América”- 2a ed- São Paulo: Ed.
Melhoramentos, s/d.- p. 94
31
Caldeira, Jorge et al.-- “Viagem pela História do Brasil”. São Paulo: Companhia
das Letras, 1997- p. 19-20
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