1. INTRODUÇÃO
O interesse principal
desta monografia é a compreensão da realidade sócio-econômica, política e
cultural da província do Guairá, região pertencente ao amplo território
paraguaio do século XVI, que por sua vez subordinava-se ao Vice-Reino do Peru,
nos domínios coloniais da América espanhola. Na literatura disponível sobre o
tema, a expressão “província do Guairá” pode ser usada num sentido amplo-- como
ocorreu por ocasião da decisão das autoridades espanholas de 1617 que dividiram
esse amplo Paraguai em dois governos-- ou no sentido mais restrito, aquí
adotado, cujo território quase coincide com o do atual Estado do Paraná, como
se verá adiante. Desse modo, compreender a realidade do Guairá nos séculos XVI
e XVII é compreender a realidade de um “Paraná espanhol” 1
cuja caracterização é objeto deste estudo.
Ele se apoia em fontes
secundárias. Seu mérito, se houver, estará no levantamento, articulação e
interpretação das informações disponíveis nessas fontes, de modo a se obter um
quadro aproximado do que teria sido a realidade do Estado naquele período, de
acordo com as fontes mencionadas. Em suma, busca-se compreender melhor os dois
primeiros séculos da História do Paraná, no que se refere à ocupação espanhola
de seu território.
A monografia está assim
estruturada:
1. Inicia por uma rápida caracterização dos primitivos habitantes da
região, anteriores à chegada dos europeus, boa parte dos quais eram vinculados
à grande família tupi-guarani. O foco maior da atenção recai sobre os índios
guarani, habitantes do Guairá, procurando-se caracterizar sua distribuição
geográfica, o seu tamanho populacional, os
usos e costumes etc.
2. Em seguida, o trabalho busca mostrar como os espanhóis iniciaram a
ocupação da região, subindo o rio Paraná a partir da sua foz, no Prata. Trata
das suas explorações, orientadas pelo interesse maior: a busca de metais
preciosos, inexistentes na região. Trata também da fundação de Buenos Aires e
Assunção. Esta então era mais importante do que aquela, sede do governo de um
Paraguai vinte vezes maior que o atual. Mostra que nessa época os portugueses
estavam iniciando a ocupação do litoral sul brasileiro. Penetram no litoral
paranaense como uma projeção da ocupação do litoral paulista (S. Vicente, a primeira
vila fundada no Brasil, é de 1532).
Aborda as jornadas de Aleixo Garcia e Cabeza de Vaca, que percorreram
o território paranaense de leste a oeste. Cabeza de Vaca chama o território de
“Província de Vera”, mas o nome que se impõe pelo costume é “Província do Guairá”, integrante da
grande região do Paraguai e Rio da Prata, subordinada ao
Vice-Reino do Peru (em 1617 essa região
é dividida em
dois governos: um
com sede em Assunção-- “Gobernación del Guairá o
Paraguai”, e outro com sede em Buenos Aires-- “Gobernación del Río de la Plata ”). Afirma que
tanto portugueses como espanhóis estavam interessados em assenhorear-se dos
índios, a maior riqueza da terra, defendidos pelos jesuítas em suas reduções.
Mostra que os espanhóis adotavam o sistema das encomiendas o qual na
prática significava a escravização dos índios. Os portugueses, por outro lado,
os escravizavam pura e simplesmente, sem estarem sujeitos a certas obrigações,
como os espanhóis, nas encomiendas.
Trata da fundação, na província do Guairá, das vilas espanholas de
Ciudad Real (que absorveu Ontiveros) e Villa Rica e aponta as razões para a sua
fundação. Trata também da sua existência na segunda metade do século XVI, em que poucos espanhóis eram
senhores de muitos índios, os quais trabalhavam na principal atividade
econômica da região: a coleta da erva-mate. Por isso a posse dos índios era tão
cobiçada pelos espanhóis. Mas eles também eram objeto da cobiça dos portugueses
de São Paulo, que os capturavam no Guairá e os levavam para vender como
escravos nos mercados do sudeste. Mostra que no final da década de 1580 chegam
os jesuítas, para tentar um novo sistema de civilizar os índios, tendo em vista
o fracasso do sistema das encomiendas.
3. Na sequência, o trabalho aborda o papel desempenhado pelos jesuítas no Guairá,
iniciando pela atividade pioneira dos padres Ortega e Fields, principalmente o
primeiro. Afirma que em 1610 é fundada a primeira redução jesuítica, a de Nossa
Senhora de Loreto, logo seguida pela fundação de Santo Inácio Menor, ambas
localizadas na margem esquerda do Paranapanema, em território hoje paranaense.
Procura caracterizar no que consistiu o projeto jesuítico, com base no exame da
sua experiência histórica, de mais de 150 anos, contemplando os aspectos
econômico, social, político e cultural. Avalia a experiência do Guairá, que se
refere apenas aos primeiros vinte anos desse projeto, de 1610 a 1631. Examina as
reduções aí implantadas, procurando caracterizá-las individualmente, na medida
da disponibilidade das informações. Mostra que enquanto se desenvolviam aqui,
outras reduções iam se implantando entre os rios Paraná e Uruguai. Trata de
como as reduções sofreram o ataque dos bandeirantes, que implicou no seu
desaparecimento --e também das vilas espanholas -- do território paranaense e
sua reinstalação em outras regiões do continente. Aborda as razões para a
ocorrência de tais fatos. Narra a grande migração de 1631, liderada pelos
padres jesuítas, rumo ao sul, para os territórios atuais da Argentina e
Paraguai.
4. Na última etapa, o trabalho refere-se rapidamente à situação do
Guairá após o ataque dos bandeirantes e ao desaparecimento das reduções
jesuíticas e vilas espanholas. Mostra que a região, depois desses fatos, cai no
esquecimento por mais de um século. E apresenta, sucintamente, o que estava
acontecendo a leste do território hoje paranaense, na segunda metade do século
XVII.
5. Nas “Considerações Finais” a monografia procura avaliar o significado
dessa experiência histórica para o Estado do Paraná, e faz uma série de
recomendações ao poder público.
1
Expressão usada por Balhana, Altiva Pilatti et al. em sua “História do Paraná”,
2a ed, v.1. Curitiba: Grafipar, 1969.
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