terça-feira, 9 de outubro de 2012



1. INTRODUÇÃO


            O interesse principal desta monografia é a compreensão da realidade sócio-econômica, política e cultural da província do Guairá, região pertencente ao amplo território paraguaio do século XVI, que por sua vez subordinava-se ao Vice-Reino do Peru, nos domínios coloniais da América espanhola. Na literatura disponível sobre o tema, a expressão “província do Guairá” pode ser usada num sentido amplo-- como ocorreu por ocasião da decisão das autoridades espanholas de 1617 que dividiram esse amplo Paraguai em dois governos-- ou no sentido mais restrito, aquí adotado, cujo território quase coincide com o do atual Estado do Paraná, como se verá adiante. Desse modo, compreender a realidade do Guairá nos séculos XVI e XVII é compreender a realidade de um “Paraná espanhol” 1 cuja caracterização é objeto deste estudo.

            Ele se apoia em fontes secundárias. Seu mérito, se houver, estará no levantamento, articulação e interpretação das informações disponíveis nessas fontes, de modo a se obter um quadro aproximado do que teria sido a realidade do Estado naquele período, de acordo com as fontes mencionadas. Em suma, busca-se compreender melhor os dois primeiros séculos da História do Paraná, no que se refere à ocupação espanhola de seu território.   
   
            A monografia está assim estruturada:

1. Inicia por uma rápida caracterização dos primitivos habitantes da região, anteriores à chegada dos europeus, boa parte dos quais eram vinculados à grande família tupi-guarani. O foco maior da atenção recai sobre os índios guarani, habitantes do Guairá, procurando-se caracterizar sua distribuição geográfica, o seu tamanho populacional, os  usos e costumes etc.

2. Em seguida, o trabalho busca mostrar como os espanhóis iniciaram a ocupação da região, subindo o rio Paraná a partir da sua foz, no Prata. Trata das suas explorações, orientadas pelo interesse maior: a busca de metais preciosos, inexistentes na região. Trata também da fundação de Buenos Aires e Assunção. Esta então era mais importante do que aquela, sede do governo de um Paraguai vinte vezes maior que o atual. Mostra que nessa época os portugueses estavam iniciando a ocupação do litoral sul brasileiro. Penetram no litoral paranaense como uma projeção da ocupação do litoral paulista (S. Vicente, a primeira vila fundada no Brasil, é de 1532).  Aborda as jornadas de Aleixo Garcia e Cabeza de Vaca, que percorreram o território paranaense de leste a oeste. Cabeza de Vaca chama o território de “Província de Vera”, mas o nome que se impõe pelo costume é  “Província do Guairá”, integrante  da  grande  região  do Paraguai e Rio da Prata, subordinada ao Vice-Reino do Peru (em 1617  essa   região   é    dividida    em    dois    governos:   um  com  sede  em Assunção-- “Gobernación del Guairá o Paraguai”, e outro com sede em Buenos Aires--Gobernación del Río de la Plata”). Afirma que tanto portugueses como espanhóis estavam interessados em assenhorear-se dos índios, a maior riqueza da terra, defendidos pelos jesuítas em suas reduções. Mostra que os espanhóis adotavam o sistema das encomiendas o qual na prática significava a escravização dos índios. Os portugueses, por outro lado, os escravizavam pura e simplesmente, sem estarem sujeitos a certas obrigações, como os espanhóis, nas encomiendas.  Trata da fundação, na província do Guairá, das vilas espanholas de Ciudad Real (que absorveu Ontiveros) e Villa Rica e aponta as razões para a sua fundação. Trata também da sua existência na segunda metade do século XVI, em que poucos espanhóis eram senhores de muitos índios, os quais trabalhavam na principal atividade econômica da região: a coleta da erva-mate. Por isso a posse dos índios era tão cobiçada pelos espanhóis. Mas eles também eram objeto da cobiça dos portugueses de São Paulo, que os capturavam no Guairá e os levavam para vender como escravos nos mercados do sudeste. Mostra que no final da década de 1580 chegam os jesuítas, para tentar um novo sistema de civilizar os índios, tendo em vista o fracasso do sistema das encomiendas.

3. Na sequência, o trabalho aborda o papel desempenhado pelos jesuítas no Guairá, iniciando pela atividade pioneira dos padres Ortega e Fields, principalmente o primeiro. Afirma que em 1610 é fundada a primeira redução jesuítica, a de Nossa Senhora de Loreto, logo seguida pela fundação de Santo Inácio Menor, ambas localizadas na margem esquerda do Paranapanema, em território hoje paranaense. Procura caracterizar no que consistiu o projeto jesuítico, com base no exame da sua experiência histórica, de mais de 150 anos, contemplando os aspectos econômico, social, político e cultural. Avalia a experiência do Guairá, que se refere apenas aos primeiros vinte anos desse projeto, de 1610 a 1631. Examina as reduções aí implantadas, procurando caracterizá-las individualmente, na medida da disponibilidade das informações. Mostra que enquanto se desenvolviam aqui, outras reduções iam se implantando entre os rios Paraná e Uruguai. Trata de como as reduções sofreram o ataque dos bandeirantes, que implicou no seu desaparecimento --e também das vilas espanholas -- do território paranaense e sua reinstalação em outras regiões do continente. Aborda as razões para a ocorrência de tais fatos. Narra a grande migração de 1631, liderada pelos padres jesuítas, rumo ao sul, para os territórios atuais da Argentina e Paraguai.

4. Na última etapa, o trabalho refere-se rapidamente à situação do Guairá após o ataque dos bandeirantes e ao desaparecimento das reduções jesuíticas e vilas espanholas. Mostra que a região, depois desses fatos, cai no esquecimento por mais de um século. E apresenta, sucintamente, o que estava acontecendo a leste do território hoje paranaense, na segunda metade do século XVII.

5. Nas “Considerações Finais” a monografia procura avaliar o significado dessa experiência histórica para o Estado do Paraná, e faz uma série de recomendações ao poder público.  



1 Expressão usada por Balhana, Altiva Pilatti et al. em sua “História do Paraná”, 2a ed, v.1. Curitiba: Grafipar, 1969. 

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